Carcinoma Pavimento-celular da orofaringe na Madeira 2009-2019: Análise da sobrevivência a 5 anos e factores prognóstico

Autores

  • Daniela Serras Hospital Central do Funchal - SESARAM, Portugal https://orcid.org/0000-0002-2601-2945
  • Rogério Fernandes Hospital Central do Funchal, SESARAM, Portugal
  • Tatiana Carvalho Hospital Central do Funchal, SESARAM, Portugal
  • Marisol Plácido Hospital Central do Funchal, SESARAM, Portugal
  • Miguel Furtado Hospital Central do Funchal, SESARAM, Portugal
  • Carlos Martins Hospital Central do Funchal, SESARAM, Portugal

DOI:

https://doi.org/10.34631/sporl.1042

Palavras-chave:

Carcinoma pavimento-celular da orofaringe, Estadiamento, Taxa de sobrevivência, Tratamento cirúrgico, Tratamento adjuvante, Tratamento médico isolado

Resumo

Introdução: Os carcinomas pavimento-celulares (CPC) da orofaringe tiveram uma incidência global anual de 98 412, tendo sido registados 48 143 óbitos, em 2020. O prognóstico é variável, sendo que o reconhecimento dos fatores com impacto na sobrevida dos doentes é fulcral na seleção do melhor esquema terapêutico.

Objectivos: Realizar uma análise da sobrevivência e investigar o impacto das diferentes variáveis clínicas no prognóstico dos doentes diagnosticados com CPC da orofaringe.

Materiais e Métodos: Estudo retrospectivo entre 2009-2019 num centro terciário (Hospital Central do Funchal, SESARAM). Os dados categóricos foram analisados usando o teste chi-quadrado. As curvas de sobrevivência foram estimadas usando o método de Kaplan-Meier. O modelo de regressão da Cox foi aplicado para avaliar o efeito das variáveis clínicas na sobrevivência (idade, género, consumo de álcool e tabaco, localização tumoral, estadio e tipo de tratamento). Os doentes paliativos (n=24) foram excluídos da análise da sobrevivência. Não foi possível obter o status HPV, na larga maioria dos doentes.

Resultados: Foram analisados os casos de 180 doentes diagnosticados com CPC da orofaringe. A média de idades da amostra foi 56,00±10,436 anos e 91,9% dos doentes eram homens. 76,6% dos doentes consumia álcool e/ou tabaco. 88,4% dos doentes foram diagnosticados em estadios avançados, correspondendo a estadio IV 71,7% dos casos. As únicas variáveis com impacto estatisticamente significativo no prognóstico dos doentes foram o estadiamento (p=0,018) e o tipo de tratamento (p<0,0001). Os doentes em estadio I apresentaram uma taxa de sobrevivência (TS) global a 5 anos de 56,3% enquanto que os doentes em estadio IV (IVa, IVb, IVc) tiveram TS mais baixas (30,6%).

A cirurgia isolada teve uma TS global de 46,7% seguida pela cirurgia associada a radioterapia (37,5%) e pela quimioradioterapia. (15,4%).

Entre todas as variáveis incluídas no modelo de regressão de Cox, verificou-se que o tipo de tratamento foi a única variável com impacto no prognóstico dos doentes: doentes submetidos a tratamento cirúrgico associado ou não a tratamento médico tinham um risco de morte 1,85x menor que doentes submetidos a tratamento médico isolado (p=0,017). 

Conclusões:  Verificou-se que o estadiamento e o tipo de tratamento tiveram impacto no prognóstico dos doentes, independentemente das outras variáveis, à semelhança de outros estudos publicados. A análise multivariável revelou ainda, que o tratamento médico exclusivo associou-se a piores resultados em termos de sobrevivência quando comparado com o grupo do tratamento cirúrgico +/- a tratamento médico.

Referências

Ferlay J, Colombet M, Soerjomataram I, Parkin DM, Piñeros M, Znaor A. et al. Cancer statistics for the year 2020: na overview. Int J Cancer. 2021 Apr 5. doi: 10.1002/ijc.33588.

Sung H, Ferlay J, Siegel RL, Laversanne M, Soerjomataram I, Jemal A. et al. Global Cancer Statistics 2020: GLOBOCAN estimates of incidence and mortality worldwide for 36 cancers in 185 countries. CA Cancer J Clin. 2021 May;71(3):209-249. doi: 10.3322/caac.21660.

Eisbruch A, Harris J, Garden AS, Chao CK, Straube W, Harari PM. et al. Multi-institutional trial of accelerated hypofractionated intensity-modulated radiation therapy for early-stage oropharyngeal cancer (RTOG 00-22). Int J Radiat Oncol Biol Phys. 2010 Apr;76(5):1333-8. doi: 10.1016/j.ijrobp.2009.04.011.

Pederson AW, Haraf DJ, Witt ME, Stenson KM, Vokes EE, Blair EA. et al. Chemoradiotherapy for locoregionallyadvanced squamous cell carcinoma of the base of tongue. Head Neck. 2010 Nov;32(11):1519-27. doi: 10.1002/hed.21360.

Psychogios G, Mantsopoulos K, Agaimy A, Brunner K, Mangold E, Zenk J. et al. Outcome and prognostic factors in T4a oropharyngeal carcinoma, including the roleof HPV infection. Biomed Res Int. 2014;2014:390825. doi: 10.1155/2014/390825.

Jakobsen KK, Gronhoj C, Jensen DH, Karnov KKS, Agander TK, Specht L. et al. Increasing incidence and survival of head andneck cancers in Denmark: a nation-wide study from 1980 to 2014. Acta Oncol (Madr).2018;57(9):1143-1151. doi:10.1080/0284186X.2018.1438657/SUPPL_FILE/IONC_A_1438657_SM7083.ZIP

Kowalski LP, Oliveira MM, Lopez RVM, Silva DRME, Ikeda MK, Curado MP. Survival trends of patients with oral and oropharyngeal cancer treated at a cancer center in São Paulo, Brazil. Clinics (Sao Paulo). 2020 Apr 6;75:e1507. doi: 10.6061/clinics/2020/e1507.

Moro JDS, Maroneze MC, Ardenghi TM, Barin LM, Danesi CC. Oral and oropharyngeal cancer: epidemiology and survival analysis. Einstein (Sao Paulo). 2018 Jun 7;16(2):eAO4248. doi: 10.1590/S1679-45082018AO4248.

Dittberner A, Ziadat R, Hoffmann F, Pertzborn D, Gassler N, Guntinas-Lichius O. Gender disparities in epidemiology, treatment,and outcome for head and neck cancer in germany: a population-based long-term analysis from 1996 to 2016 of the Thuringian Cancer Registry. Cancers (Basel). 2020 Nov 18;12(11):3418. doi: 10.3390/cancers12113418.

Rettig EM, D’Souza G. Epidemiology of head and neck cancer. Surg Oncol Clin N Am. 2015 Jul;24(3):379-96. doi: 10.1016/j.soc.2015.03.001.

de França GM, da Silva WR, Medeiros CKS, Júnior JF, de Moura Santos E, Galvão HC. Five-year survival and prognostic factors for oropharyngeal squamous cell carcinoma: retrospective cohort of a cancer center. Oral Maxillofac Surg. 2022 Jun;26(2):261-269. doi: 10.1007/s10006-021-00986-4.

Psychogios G, Mantsopoulos K, Agaimy A, Brunner K, Mangold E, Zenk J. et al. Outcome and prognostic factors in T4a oropharyngeal carcinoma, including the role of HPV infection. Biomed Res Int. 2014;2014:390825. doi: 10.1155/2014/390825.

Wagner S, Wittekindt C, Sharma SJ, Wuerdemann N, Jüttner T, Reuschenbach M. et al. Human papillomavirus association is the most important predictor for surgically treated patients with oropharyngeal cancer. Br J Cancer. 2017 Jun 6;116(12):1604-1611. doi: 10.1038/bjc.2017.

Schneider IJ, Flores ME, Nickel DA, Martins LG, Traebert J. Survival rates of patients with cancer of the lip, mouth and pharynx: a cohort study of 10 years. Rev Bras Epidemiol. 2014 Jul-Sep;17(3):680-91. doi: 10.1590/1809-4503201400030009.

Tham T, Ahn S, Frank D, Kraus D, Costantino P. Anatomical subsite modifies survival in oropharyngeal squamous cell carcinoma: National Cancer Database study. Head Neck. 2020 Mar;42(3):434-445. doi: 10.1002/hed.26019.

Gillison ML, Zhang Q, Jordan R, Xiao W, Westra WH, Trotti A. et al. Tobacco smoking and increased risk of death and progression for patients with p16-positive and p16-negative oropharyngeal cancer. J Clin Oncol . 2012 Jun 10;30(17):2102-11. doi: 10.1200/JCO.2011.38.4099.

Park JO, Park YM, Jeong WJ, Shin YS, Hong YT, Choi IJ. et al. Survival benefits from surgery for stage IVa head and neck squamous cell carcinoma: a multi-institutional analysis of 1,033 cases. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2021 May;14(2):225-234. doi: 10.21053/ceo.2020.01732.

Song S, Wu HG, Lee CG, Keum KC, Kim MS, Ahn YC. et al. Chemoradiotherapy versus surgery followed by postoperative radiotherapy in tonsil cancer: Korean Radiation Oncology Group (KROG) study. BMC Cancer. 2017 Aug 30;17(1):598. doi: 10.1186/s12885-017-3571-3.

Publicado

18-12-2022

Como Citar

Serras, D., Fernandes, R., Carvalho, T., Plácido, M., Furtado, M., & Martins, C. (2022). Carcinoma Pavimento-celular da orofaringe na Madeira 2009-2019: Análise da sobrevivência a 5 anos e factores prognóstico. Revista Portuguesa De Otorrinolaringologia-Cirurgia De Cabeça E Pescoço, 60(4), 347–354. https://doi.org/10.34631/sporl.1042

Edição

Secção

Artigo Original